“Era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado.” (Lc 15,32)
Essa frase se encontra no final da chamada “parábola do filho pródigo”, que certamente você conhece, e que nos quer revelar a grandeza da misericórdia de Deus. Ela conclui todo um capítulo do Evangelho de Lucas, no qual Jesus narra outras duas parábolas para ilustrar o mesmo assunto.
Lembra-se do episódio da ovelha desgarrada, em que o dono do rebanho procura aquela que se perdera, deixando as outras noventa e nove no deserto? (cf. Lc 15,4-7)
Lembra-se também da história da dracma perdida e da alegria da mulher que, após encontrá-la, chama as amigas e as vizinhas para se alegrarem com ela? (cf. Lc 15,8-10)
“Era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado.”
Essas palavras são um convite que Deus dirige a você, e a todos os cristãos, para rejubilar-se com ele, para festejar e participar da sua alegria pela volta do homem pecador que antes estava perdido e depois foi encontrado. E, na parábola, são essas as palavras dirigidas pelo pai ao filho mais velho que havia compartilhado toda a sua vida, mas que, após um dia de trabalho duro, se recusa a entrar em casa, onde se festeja a volta do seu irmão.
O pai vai ao encontro do filho fiel, assim como foi ao encontro do filho perdido, e procura convencê-lo. Mas é evidente o contraste entre os sentimentos do pai e os do filho mais velho: de um lado o pai, com seu amor sem limites e com sua grande alegria, da qual gostaria que todos participassem; do outro lado o filho, cheio de desprezo e de ciúmes de seu irmão, ao qual ele não reconhece mais como irmão. Com efeito, falando dele, diz: “Este teu filho, que devorou teus bens” (Lc 15,30).
O amor e a alegria do pai pelo filho que voltou evidenciam ainda mais o rancor do outro, rancor que revela um relacionamento frio e, diríamos até, falso com o próprio pai. A esse filho importa o trabalho, o cumprimento do seu dever; mas ele não ama o pai como um verdadeiro filho. Ao contrário, mais parece que lhe obedece como a um patrão.
“Era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado.”
Com essas palavras Jesus denuncia um perigo em que também você pode incorrer: viver apenas para ser uma “pessoa de bem”, baseando a vida na busca da própria perfeição e criticando os irmãos “menos perfeitos” que você.
Na verdade, se você estiver “apegado” à perfeição, construirá seu ego, ficará cheio de si mesmo, cheio de admiração pela própria pessoa. Será como o filho que permaneceu em casa, e que enumera ao pai os seus méritos: “Há tantos anos que eu te sirvo e jamais transgredi um só dos teus mandamentos” (Lc 15,29).
“Era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado.”
Com essas palavras, Jesus censura aquela atitude segundo a qual a relação com Deus estaria fundamentada apenas na observância dos mandamentos. Mas essa observância não é suficiente. Disso também a tradição hebraica está bem consciente.
Nessa parábola Jesus põe em evidência o Amor divino, mostrando como Deus, que é Amor, dá o primeiro passo em direção ao homem sem levar em consideração se ele merece ou não; Deus quer que o homem se abra a ele para poder estabelecer uma autêntica comunhão de vida. Naturalmente, como você pode entender, o maior obstáculo diante de Deus-Amor é justamente a vida daqueles que acumulam ações, obras, enquanto Deus quer o seu coração.
“Era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado.”
Com essas palavras, Jesus convida você a ter, diante do pecador, o mesmo amor desmedido que o Pai tem para com ele. Jesus convida você a não julgar com a sua medida o amor que o Pai tem para com qualquer pessoa. Convidando o filho mais velho a compartilhar a sua alegria pelo filho encontrado, o Pai pede também a você uma mudança de mentalidade: na prática, você deve acolher como irmãos e irmãs inclusive aqueles homens e mulheres pelos quais nutriria apenas sentimentos de desprezo e de superioridade. Isso provocará em você uma verdadeira conversão, porque o purifica da sua convicção de ser “mais perfeito”, evita que você caia na intolerância religiosa e o faz acolher como puro dom do amor de Deus a salvação que Jesus lhe proporcionou.
Chiara Lubich
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